
Certas histórias que me contam...
Fabiano Cotrim 27 04 08
Certas histórias me chegam e imediatamente começo a duvidar delas. Devido a esse meu posto de cronista amador, todo mundo acha de me contar todas as histórias que conhece, cada uma mais cabeludas do que a outra, todas, segundo os que as contam, excelentes materiais para crônicas. É claro que eu, escaldado pelo tempo, tomo muito cuidado antes de utilizar tais materiais. A primeira seleção fica por conta dos comprometimentos pessoais que trazem muitas dessas histórias. Se o caso envolve pessoas, se o simples fato de contar o caso pode constranger pessoas, ainda que elas não sejam conhecidas minhas, ponho as barbas de molho. Vocês acreditam que outro dia desses um amigo me trouxe revelações bombásticas sobre a vida privada de uma pessoa que já foi pública, como se isto se prestasse para uma crônica? Afastei logo a idéia, dei uma dura no informante. Onde já se viu rapaz? Deixa o cara fazer o que quiser, o que nós temos com isto, ora pois! Quando isto acontece, quando refugo alguma história que a fonte julga ser merecedora de divulgação, é inevitável o pito. Você está é com medo, onde já se viu? O cara foi pego numa situação dessas e você vem me dizer que isto não dá crônica?! Você está é com medo... È claro que se a conversa atinge um nível baixo eu logo me afasto, ainda que o interlocutor permaneça me chamando de covarde e outros adjetivos impublicáveis.
Pensando assim é que não dei crédito a uma história que me contaram há coisa de um ano atrás. Dizia o amigo que em visita às jazidas de ferro recém descobertas aqui em Caetité, altos funcionários do governo norte americano ficaram impressionados com o que viram por aqui. Não com o ferro, não com as jazidas, mas com o preço dos aluguéis, terrenos e casas em Caetité. È que os americanos, dizia o tal amigo bem informado, pretendiam fixar uma base na terrinha, manter um funcionário permanentemente de olho nessa terra de tantas riquezas minerais. Mas quando foram procurar uma casa para instalar o tal escritório, mal acreditaram no que ouviram. E foi daí, contava agora eufórico o meu camaradinha, que surgiu a idéia de colonizar a lua! Nesse ponto da história eu comecei a me afastar, mas ele me segurava pelo braço, repetindo detalhes da sua história, garantindo ser tudo verdade. Calma rapaz, deixa eu terminar de contar! Os gringos voltaram para Washington e contaram tudo a Bush. Ele então decidiu como costuma decidir, isto é, sem consultar mais ninguém, dizendo: O quê? Este é o preço de um imóvel em um lugarzinho perdido no meio do mundo? Esquece os minérios, tenho uma idéia melhor! Vamos acelerar os nossos planos de colonizar a Lua, pois daqui há pouco ninguém vai poder morar nesse planeta, se a coisa nessa tal Caetité já está assim, imagina no resto do mundo como é que vai ficar...
Claro que deixei o amigo falando sozinho e fui tratar da vida. Claro que não acreditei em uma só palavra do que ele disse e nem mesmo consegui dar risada da sua história sem pé e nem cabeça. Mas outro dia desses, passeando pela internet, dou de cara com uma matéria publicada na revista Istoé que mostra exatamente o projeto norte americano de colonizar a lua. Será? Será que o meu amigo tinha razão? E agora? A partir desse fato passei a ouvir com mais calma todas as histórias que me contam, vai que uma delas é de fato verdadeira... Inclusive voltei a conversar com aquele outro amigo que me contou a tal história do início da crônica. Ele insistiu no que dissera antes e ainda acrescentou outros detalhes muito mais picantes. Por enquanto apenas anotei tudo, o que não significa que pretenda contar uma história assim, afinal é de foro absolutamente íntimo e as pessoas envolvidas não merecem ser expostas por isto, ainda que sejam covardes até para assinar embaixo das suas preferências, mesmo as mais íntimas. Mas quer saber? Melhor para por aqui. Melhor tratar de escrever outra crônica, que esta definitivamente vai ficando difícil de terminar sem parecer conversa de lunáticos. Não falei? Certas histórias que me chegam...