sábado, 27 de setembro de 2008

A GATA BORRALHEIRA

Há muito tempo, numa cidade longínqua, vivia um casal que só tinha uma filha, mas muito bonita e muito boa. Num inverno rigoroso a mãe morreu e, desde aquele dia, a vida da menina tornou-se muito triste; além disso, estava quase sempre sozinha, pois o pai era um comerciante rico muitas vezes ausente em viagem por países distantes.- Sei que estás muito desolada e triste, mas não te preocupes, porque em breve vais ter quem te console e acompanhe - disse-lhe um dia o pai.Com efeito o comerciante casou de novo, mas agora com uma viúva muito antipática que já tinha duas filhas muito feias e com um coração tão mau como o da mãe.Aquela mulher sentiu logo uma grande inveja, porque as suas meninas não eram nem tão bonitas nem tão boas e prendadas como a enteada, e por isso as três costumavam maltratá-la, aproveitando o facto de o pai estar ausente.- Porque é que tens tanta cinza no vestido? Estás tão suja! Vamos chamar-te Gata Borralheira, que é um nome que te assenta muito bem! - disseram-lhe uma tarde as três, rindo-se muito. Um dia o pregoeiro do Rei anunciou que o Príncipe completara dezoito anos e que o Monarca, para o celebrar, convidava para um baile no Palácio todas as filhas solteiras das famílias nobres e ricas. A madrasta chamou a Gata Borralheira e disse-lhe:- Vais engomar os vestidos das minhas filhas e limpar-lhes os sapatos, mas tu não vais a esse baile! Quando a madrasta e as filhas saíram para o Palácio, a Gata Borralheira escondeu-se num canto e começou a chorar amargamente. Era ela que tinha de fazer todos os trabalhos da casa e obrigavam-na a dormir junto da lareira.De repente uma luz azul encheu a cozinha e a Gata Borralheira viu uma mulher lindíssima e resplandecente.- Eu sou a tua Fada Madrinha e venho consolar-te, porque tens continuado a ser boa apesar dos sofrimentos. Pede-me o que quiseres, que eu concedo-to.A Gata Borralheira pensava que estava a sonhar. A Fada, que sabia tudo, disse:- Gostavas de ir ao baile do Palácio? - Sim, sim...isso é o que eu mais desejo neste mundo! -respondeu a jovem.Então a Madrinha mandou-a trazer do jardim uma grande cabaça, seis ratos, uma rata e seis lagartixas, que se deixaram apanhar porque era a Fada que mandava. Depois transformou tudo com a sua varinha mágica: a cabaça converteu-se na carruagem mais luxuosa jamais vista; os ratos, em seis cavalos brancos; a rata, num cocheiro todo empertigado e as lagartixas em seis criados com uniformes muito vistosos. A Fada tocou depois com a varinha no vestido sujo da Gata Borralheira e ela ficou adornada com o vestido comprido mais maravilhoso que uma costureira poderia alguma vez imaginar. Por último a varinha pousou nas suas pobres sandálias, que se tornaram em dois sapatinhos de cristal de rara beleza.- Á meia-noite em ponto terminará o feitiço e tudo será como antes -disse-lhe a Fada ao despedir-se dela. Quando a Gata Borralheira entrou no salão de baile todos a admiraram pensando que era uma Princesa, e o Príncipe, apaixonado, convidou-a para dançar. Ao vê-los juntos o rei comentou:-Nunca vi uma jovem tão elegante e tão bonita. Espero que o meu filho se dê conta disso. O Príncipe não deixou de dançar com ela um só momento. Mas as horas felizes passam muito depressa e as badaladas do relógio do Palácio despertaram a Gata Borralheira daquele sonho maravilhoso: estava a bater a meia-noite! Deixou o Príncipe e correu pelos jardins, tão depressa que perdeu um sapato na escadaria. Quando soou a última badalada o feitiço desapareceu. O Príncipe correu atrás dela, mas só viu uma jovem pobremente vestida a afastar-se. Foi então que encontrou o sapato e guardou-o perto do coração.-A dona deste sapato de cristal é também a dona do meu coração! -disse o Príncipe ao pai.- Quero que procurem essa jovem por todo o reino! -ordenou o Rei. Os emissários reais foram experimentando o sapato a todas as donzelas. E, quando chegou a vez delas, as meias-irmâs da Gata Borralheira fizeram esforços enormes para poderem meter nele os seus grandes pés, mas tudo foi inútil.- Agora gostava eu de o experimentar! -pediu a Gata Borralheira.- Tu não vais experimentar NADA! -gritou-lhe a madastra com desprezo.- Claro que o vai experimentar, minha senhora -exclamou o emissário real. - O Rei ordenou que todas o experimentassem, e todas significa todas.O pé da Gata Borralheira entrou perfeitamente no sapato de cristal, que parecia feito à sua medida, e a madastra e as filhas choraram de desespero.

Pouco tempo depois a Gata Borralheira e o Príncipe casaram. Nunca houve um casamento tão magnífico! E os apaixonados viveram felizes, durante muitos e muitos anos.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

BRANCA DE NEVE

Há muito tempo, num reino distante, viviamum rei, uma rainha e sua filhinha, a princesa Branca de Neve. Suapele era branca como a neve, os lábios vermelhos como o sangue eos cabelos pretos como o ébano.Um dia, a rainha ficou muito doente e morreu. O rei,sentindo-se muito sozinho, casou-se novamente.O que ninguém sabia é que a nova rainha era uma feiticeiracruel, invejosa e muito vaidosa. Ela possuía um espelho mágico,para o qual perguntava todos os dias:— Espelho, espelho meu! Há no mundo alguém mais belado que eu?— És a mais bela de todas as mulheres, minha rainha!— respondia ele.Branca de Neve crescia e ficava cada vez mais bonita,encantadora e meiga. Todos gostavam muito dela, exceto a rainha,pois tinha medo que Branca de Neve se tornasse mais bonita queela.Depois que o rei morreu, a rainha obrigava a princesa avestir-se com trapos e a trabalhar na limpeza e na arrumação detodo o castelo. Branca de Neve passava os dias lavando, passando eesfregando, mas não reclamava. Era meiga, educada e amada portodos. Um dia, como de costume, a rainha perguntou ao espelho:— Espelho, espelho meu! Há no mundo alguém mais belado que eu?— Sim, minha rainha! Branca de Neve é agora a maisbela!A rainha ficou furiosa, pois queria ser a mais bela parasempre. Imediatamente mandou chamar seu melhor caçador e ordenouque ele matasse a princesa e trouxesse seu coração numa caixa. No dia seguinte, ele convidou a menina para um passeio nafloresta, mas não a matou.— Princesa, — disse ele — a rainha ordenouque eu a mate, mas não posso fazer isso. Eu a vi crescer e semprefui leal a seu pai.— A rainha?! Mas, por quê? — perguntou aprincesa.— Infelizmente não sei, mas não vou obedecer a rainhadessa vez. Fuja, princesa, e por favor não volte ao castelo,porque ela é capaz de matá-la!Branca de Neve correu pela floresta muito assustada,chorando, sem ter para onde ir. O caçador matou uma gazela, colocou seu coração numa caixa elevou para a rainha, que ficou bastante satisfeita, pensando que aenteada estava morta.Anoiteceu. Branca de Neve vagou pela floresta até encontraruma cabana. Era pequena e muito graciosa. Parecia habitada porcrianças, pois tudo ali era pequeno.A casa estava muito desarrumada e suja, mas Branca de Nevelavou a louça, as roupas e varreu a casa. No andar de cima dacasinha encontrou sete caminhas, uma ao lado da outra. A moçaestava tão cansada que juntou as caminhas, deitou-se e dormiu.Os donos da cabana eram sete anõezinhos que, ao voltarempara casa, se assustaram ao ver tudo arrumado e limpo. Os sete homenzinhos subiram a escada e ficaram muitoespantados ao encontrar uma linda jovem dormindo em suas camas.Branca de Neve acordou e contou sua história para os anões,que logo se afeiçoaram a ela e a convidaram para morar com eles. O tempo passou... Um dia, a rainha resolveu consultarnovamente seu espelho e descobriu que a princesa continuava viva.Ficou furiosa. Fez uma poção venenosa, que colocou dentro de umamaçã, e transformou-se numa velhinha maltrapilha.— Uma mordida nesta maçã fará Branca de Neve dormirpara sempre — disse a bruxa.No dia seguinte, os anões saíram para trabalhar e Branca deNeve ficou sozinha.Pouco depois, a velha maltrapilha chegou perto da janela dacozinha. A princesa ofereceu-lhe um copo d’água econversou com ela.— Muito obrigada! — falou a velhinha —coma uma maçã... eu faço questão!No mesmo instante em que mordeu a maçã, a princesa caiudesmaiada no chão. Os anões, alertados pelos animais da floresta,chegaram na cabana enquanto a rainha fugia. Na fuga, ela acaboucaindo num abismo e morreu.Os anõezinhos encontraram Branca de Neve caída, como seestivesse dormindo. Então colocaram-na num lindo caixão decristal, em uma clareira e ficaram vigiando noite e dia,esperando que um dia ela acordasse.Um certo dia, chegou até a clareira um príncipe do reinovizinho e logo que viu Branca de Neve se apaixonou por ela. Ele pediu aos anões que o deixassem levar o corpo da princesa para seu castelo, e prometeu que velaria por ela.Os anões concordaram e, quando foram erguer o caixão, este caiu, fazendo com que o pedaço de maçã que estava alojado na garganta de Branca de Neve saísse por sua boca, desfazendo o feitiço e acordando a princesa. Quando a moça viu o príncipe, se apaixonou por ele. Branca de Neve despediu-se dos sete anões e partiu junto com o príncipe para um castelo distante onde secasaram e foram felizes para sempre.