Um, dois, sobe o feijão, sobe o arroz...
Fabiano Cotrim 27 04 08
Ai, ai, ai, ouço o noticiário, leio os jornais e vou ficando cada vez mais preocupado. Então quer dizer que logo, logo, vamos ter que abolir do repertório infantil a clássica ordem unida um, dois, feijão com arroz? Quer dizer agora que as nossas criancinhas vão ter de falar um, dois, feijão ou arroz? Ou será ainda pior e os meninos e meninas do Brasil logo, logo vão dizer: um, dois, nem feijão e nem arroz? A julgar pelas recentes altas de preço, em todo o mundo, mais parece que a última opção é a que vigorará.
Primeiro foi o feijão, que da noite para o dia teve o seu preço multiplicado várias vezes. Virou ouro na feira, ficou difícil de aparecer nas panelas mais pobres. Agora é o arroz que se transforma em mercadoria cara e valiosa. A crise, dizem os especialistas, é mundial e veio para ficar. Os preços, todos constatamos, são assustadores. E como ficarão os brasileiros, acostumados desde sempre com a dupla feijão com arroz como alimento diário e necessário para a sua subsistência? Da minha parte, estou preocupadíssimo. Adepto fervoroso da duplinha saborosa, trato de estocar os grãos, embora saiba que esta é uma tarefa impossível, posto que eles têm prazo de validade determinado e se guardados por muito tempo ficam logo cheios de carunchos.
O engraçado é que há bem pouco tempo feijão com arroz era sinônimo de comida popular, coisa de pobre, como queriam os mais preconceituosos. Só a pouco é que os nutricionistas começaram a lhes dar o devido valor. Recomendado como uma mistura altamente rica em nutrientes, o prato brasileiro por excelência, ganhou status e pouco a pouco até os mais famosos declararam consumi-lo com freqüência. Pois bem, pelo andar da carruagem, só os ricos é que poderão, diariamente, misturar os dois grãos nas suas refeições...
Assustado com as notícias, corri até a feira local em busca dos novos preços. Para meu alívio o arroz, pelo menos por enquanto, ainda matem preços estáveis por estas bandas. Mas todos os feirantes avisaram: vai subir! Comprei uma boa porção daquele arroz vermelhinho, também conhecido como arroz de pilão, alguns quilos de feijões variados e voltei satisfeito. Ao menos por enquanto estamos livres da crise aqui em casa. Na hora do almoço, por via das dúvidas, comecei a me acostumar com os novos tempos e experimentei colocar uma quantidade maior de farinha no meu feijão com arroz, para render. Ficou bom, mas uma dúvida logo me veio à mente: será que o preço da farinha também vai acompanhar a tendência de alta nos alimentos? Ai, ai, ai...
*Professor Fabiano Cotrin é um dos últimos remanescentes que mantém acesa a chama de Caetité, terra da cultura.